domingo, outubro 31, 2004

Deixei-te um sorriso junto às estrelas do mar...

Acompanha-me a noite neste prolongar de mim, para além de qualquer rumo ou de qualquer maré...
E desnudos continuam os meus pés para que os caminhos que percorro se me entranhem na pele e em mim permaneçam para além destes momentos sem horas, sem passados, sem histórias...
Ao olhar a areia molhada sei que um pouco de mim permanecerá em cada vestígio dos meus pés descalços e se prolongará em cada amanhecer, renascendo assim no regaço do teu olhar doce. E a cada passo que dou, nas baínhas rendadas do mar, vou deixando estrelas a assinalar o caminho, como quem semeia um campo de sorrisos.

E eu ouço o mar ao fundo... ele traz-me do longe pedaços de sonhos completamente moldados ao espaço dos teus braços, asas vestidas de ternura branca como a espuma das ondas quando beijam as areias. E traz-me sussurros em que me segreda que a beleza rara dos horizontes é real e que é nas breves partilhas de silêncios que as distâncias se dissipam melodiosamente.

Contou-me, uma vez, este guerreiro das marés, que as distâncias não existem quando aprendemos a viajar no éter, prolongando-nos para além do que sentimos. Para tanto basta cerrarmos as pálpebras docemente, rasgarmo-nos de nós próprios e deixar germinar no peito as asas da nossa alma. Depois, numa entrega plena ao que de nós é pensamento, saberemos prosseguir num voo sem limites e sem barreiras impostas pelo tempo ou pelo espaço.
Acabou por me contar, em segredo, que é assim possível saber o aroma de um beijo... e eu acreditei!

E nunca mais cobri os meus pés.
Quedo-me, pois, também eu, em silêncio... e devagarinho abro-te os meus lábios num sorriso que deposito suavemente na beira das ondas, junto às estrelas do mar...


Cris ( Sussurros fora do tempo)

sábado, outubro 30, 2004

Somos cúmplices!

Sou tua cúmplice, esta noite... vagueio nos restos do vazio que se instala por baixo dos poros da minha pele. Suborno as minhas veias para que os rios de sangue não parem de correr em direcção a um mar que já não tem sal. Oculto de mim própria as mãos que são minhas para que não fujam de mim em busca da tua ausência. Corro desenfreada atrás dos dedos que se desgarraram delas e vagueiam no subconsciente da tua cútis, completamente abandonados na tez dos teus sonhos... Procuro os sorrisos que rasgaste das minhas entranhas e escondeste atrás das íris que me ocultas nas gargalhadas do querer...
Rasga esse véu que te oculta as carícias e alonga esses braços para além da dor...
Desculpa se quero adormecer num beijo de amor... mas hoje sou tua cúmplice!
Cris (Sussurros fora do tempo)

sexta-feira, outubro 29, 2004

O Segredo

Olá, meu amor ,
Imagina que, hoje, me apeteceu escrever-te, sentindo as saudades que se sentem aos quinze anos, quando o mundo parece acabar se nos tirarem cinco minutos ao amor... É engraçado, como o tempo nos transforma e nos ensina que a vida é tão diferente dos nossos sonhos de adolescentes, e, mesmo assim, nos polvilha os lábios de sorrisos que nos adoçam os momentos em que nos misturamos num abraço que ultrapassa todas as linhas do horizonte da ternura e nos faz transpirar amor por cada pedaço do que somos! Não tenho saudades das pressas mirabulantes dos quinze anos... prefiro amar-te com a certeza de que cada momento é o mais importante das nossas vidas, e saber-te em mim mesmo quando a ausência toma o lugar dos nossos regaços... gosto de recordar-te nas voltas soltas do fumo de um cigarro que se eleva suavemente no éter e se dissolve na pureza do ar, deixando-me nas narinas o perfume da saudade... Amo-te sem pressas e, sei agora, ser esse o segredo que me faz gostar de sentir o aroma da maresia ao largo das dunas e o prazer do abraço de uma brisa quente nos ombros nus, ou a doçura do cheiro das camarinhas nos beijos que me apetecem quando não estás... é esse o segredo que me ensina a ouvir o teu amor debaixo das copas dos pinheiros ou nas margens de um qualquer rio que corra calmamente para o mar! É por isso que não tenho saudades do tempo em que o amor sabia a pressa, com medo de acabar. Hoje sei que não acaba porque nada pode tirar de mim o que já vivi e o que já senti... e assim aprendi a amar-te sem pressas...
Cris (Do jardim da minha alma)

quarta-feira, outubro 27, 2004

Eu prometo que não faço barulho...

Eu prometo que não faço barulho, que não choro alto e que sequer movo os braços para secar as lágrimas... Deixa-me apenas sentar aqui um pouco ao pé de ti e olhar a lua com a cabeça no teu ombro...Aqui, sei que ninguém terá medo de me deixar pousar a saudade e as lembranças no seu ombro... Aqui sei que haverá uma mão estendida e um sorriso verdadeiro... Aqui sei que o espaço é eterno e que as flores não abrem apenas se viradas para o sol...MAs eu prometo que não faço barulho, que não acordo as cigarras sequer, porque apenas apenas quero ouvir o cantar do mar...O chão está tão fresco... O ar tão calma... E eu sei que se estender as minhas mãos encontro as tuas à minha espera...Apetece-me, hoje, que as tuas mãos se prolonguem num abraço em que eu caiba inteirinha e me sinta tão pequenina que não consiga aperceber-me que há sítios tão diferentes deste. Posso? Dás-me os teus braços? Dás-me um pouco de ti?Eu prometo que não faço barulho... Sussurro-te apenas o sal do mar e saberás logo que apenas quero um beijo temperado de algas e, na tua pele, o aroma das areias e das ervas bravias das dunas... ou o sabor doce das camarinhas...E neste chão de erva fresca saberei nos teus olhos a transparência dos teus sonhos e escutarei o silêncio dos teus passos brancos, de anjo, a caminhar no adentrar do meu corpo e no invadir da minha alma... Secam-se-me as gotas de orvalho que se formaram nos meus olhos... Secam-nas as palavras que me dizes e a esperança que lhes encontro...Empresta-me um pouco o teu peito... Quero ouvir as batidas que me dão vida!Crispa os teus dedos na erva suada... Abafa nos meus lábios os murmúrios e os segredos... Dá-me um beijo!
Cris (Dos meus lábios nasce a noite)