Tenho sono... um sono terrível! Julguei que não seria capaz de escrever. Preparava-me já para ir dormir, mas resolvi acender o último cigarro e saboreá-lo recostada na minha cadeira, apreciando as espirais do fumo desaparecendo na semi-penumbra que me envolve e me aconchega...
Mas a música... sobrepôs-se ao sono, ao cigarro, às espirais e prendeu-me aqui, soltando estes pedacinhos de estar só com os de estar comigo mesma...
Quase sem dar conta, o meu corpo elevou-se da cadeira e, como as espirais, levita agora acima deste escuro que me rodeia, dançando sem par nos meandros de um sono que me suaviza o sorriso e me transporta para além de qualquer horizonte...e eu vou...e eu quero ir...
Nestes momentos do que sou, sinto desgarrarem-se da zona subcutânea de mim mesma as asas que me fazem planar num mar de recordações e de miragens...e eu vou... eu quero ir...
Voo em direcção a um sol adormecido e a uma manhã que não acorda... mas deixo-me ir... vou... quero ir...
Desenrolo-me de mim e dispo as amarras e os grilhões dos ecos que me atormentam...
E vou... numa nudez vestida de ternura deitar-me num colchão de sonhos com aroma de morangos silvestres e com sabor a lábios macios... Vou... porque quero ir...
Sonhando com uma espécie de céu que se eleva do mar em ondas de nós... em nós!...
Arremesso fora o tempo e abro as minhas asas em ti... num momento de verdadeira loucura assumida que não quero contida nem em espaço algum... estou... sou contigo!...
Porque eu quero!...
Cris (Sussurros fora do tempo)