quarta-feira, março 30, 2005

no fumo do último cigarro...

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Tenho sono... um sono terrível! Julguei que não seria capaz de escrever. Preparava-me já para ir dormir, mas resolvi acender o último cigarro e saboreá-lo recostada na minha cadeira, apreciando as espirais do fumo desaparecendo na semi-penumbra que me envolve e me aconchega...
Mas a música... sobrepôs-se ao sono, ao cigarro, às espirais e prendeu-me aqui, soltando estes pedacinhos de estar só com os de estar comigo mesma...
Quase sem dar conta, o meu corpo elevou-se da cadeira e, como as espirais, levita agora acima deste escuro que me rodeia, dançando sem par nos meandros de um sono que me suaviza o sorriso e me transporta para além de qualquer horizonte...e eu vou...e eu quero ir...
Nestes momentos do que sou, sinto desgarrarem-se da zona subcutânea de mim mesma as asas que me fazem planar num mar de recordações e de miragens...e eu vou... eu quero ir...
Voo em direcção a um sol adormecido e a uma manhã que não acorda... mas deixo-me ir... vou... quero ir...
Desenrolo-me de mim e dispo as amarras e os grilhões dos ecos que me atormentam...
E vou... numa nudez vestida de ternura deitar-me num colchão de sonhos com aroma de morangos silvestres e com sabor a lábios macios... Vou... porque quero ir...
Sonhando com uma espécie de céu que se eleva do mar em ondas de nós... em nós!...
Arremesso fora o tempo e abro as minhas asas em ti... num momento de verdadeira loucura assumida que não quero contida nem em espaço algum... estou... sou contigo!...
Porque eu quero!...
Cris (Sussurros fora do tempo)

terça-feira, março 22, 2005

recomeço...

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Traída pelas pálpebras, insisto nas palavras que me apetecem aos dedos como se carícias fossem...
Se em cada letra saborear um beijo, talvez os meus braços ganhem de novo força e os versos nasçam... Talvez os sentidos se acalmem e jorrem de mim palavras doces, sem grilhões de ferro ancorados na alma...
A música talvez ajude a adormecer raivas e melancolias... o som vem do lado de lá do oceano, num suave toque de magia. Deleito-me com ela e permito-lhe saber-me ao toque dos teus dedos. Mágicos!... Alongo-me nos braços de uma "pétala" que alguém transformou em canção e sonho nela os teus braços, longos, macios...tão meus...
Antecipo-me ao término da melodia e faço com que recomece... lembra-me ,este gesto, o cadenciado ondular das ondas num fim de tarde de princípio de Outono... quando o vento é ainda brisa, e escorrega na pele ainda descoberta, do corpo ainda acordado para a noite que se aproxima...
Este eterno recomeço de uma recordação que será infinita faz-me sorrir e deixa que me sinta plena e calma...
Não, não permitirei às pálpebras que me vençam... Recomeçarei tantas vezes quantas elas tentarem trair-me, e assim permanecerei em ti e no entardecer enquanto os meus dedos quiserem...
Não me importo se não são versos que jorram deles... não me importa se são palavras sem nexo...
São beijos perdidos... São carícias lembradas... São pedaços de mim!...
Cris (Dos meus lábios nasce a noite)

sexta-feira, março 18, 2005

Por extenso...

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Os meus dedos já não encontram as palavras e as mágoas divorciam-se dos segredos que as fazem sentir-se nuas.
Há mares no horizonte das minhas mãos e gritos loucos nos cantos mais recônditos da minha pele...
Preciso-te tanto que me desamarro deste corpo para poder renascer em asas brancas. É assim, amor, que levanto os pés da terra e desacredito o chão de mim mesma. Ascendo, então, aos céus e plano, em comunhão com os meus sentidos, por sobre os teus sonhos, enquantoemito o som divino de coros celestiais de amor-céu-pequenino.
Não sou mais lábios, braços, ou destino. Sou antes reflexo dos sonhos, dos sussurros e dos gritos que derramas em mim... peregrino, caminhante, cavaleiro, amigo e amante!
Não mais me pertenço e me abrigo no jorrar intenso das lágrimas quando desertificas de ti, o meu peito. Antes me sei tempestade, brisa, corrente, ou simples partícula viva - pedaço de lava escaldante que somente em ti se atiça e no ar se consome!
Encontrasse eu as palavras e, com elas, te cantaria, desacorrentada de regras, desnuda de âncoras e vestes, mas plena de ti... e tão tua! E replecta de fantasias...
Ahhhhh.... encontrasse eu as palavras para te falar de um sonho que me traz de volta à terra... em direcção aos teus braços!...
Cris (Sussurros fora do tempo )

terça-feira, março 15, 2005

nas asas de um rio...

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Se nas tuas margens eu sentasse e chorasse, quem sabe, conceberia o mais lindo romance de amor...Sento. Porém, não choro... ou turvaria a suavidade com que ondulas .Prefiro sonhar... e, das tuas margens, arranco os braços que me embalam, e em ti espelho esta sede de amar sem horizontes.Pudesse eu hoje adormecer nos desejos que se escondem no fundo do teu olhar e entraria, certamente, numa dimensão do tempo da qual não quereria mais voltar.A eternidade, sentada no teu sorriso, não me assusta e a vontade, presa às nossas almas, não me cansa. Saberei pois permanecer nas tuas margens desde que me prometas que as tuas ondas saberão sempre beijar-me devagarinho, como quem tem medo de me assustar. Saberei sempre admirar-te as marés desde que as tuas correntes me falem sempre baixinho , como garantia de que nunca perderei o pé.E mergulharei em ti apenas quando já não houver mar, e o teu leito não tiver mais onde acabar, pois que assim saberei que é chegado o momento do teu curso me agarrar e permanecer em mim...

Cris (Dos meus lábios nasce a noite)

quarta-feira, março 09, 2005

Permanecendo...

Porque me apetece permanecer para além dos lapsos dos sorrisos...

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Esquece as palavras e olha-me apenas...
Deixa que dos teus olhos escorregue a ternura que te humedece os lábios
e beija-me
simplesmente

E permanece em mim

Despe-te
Abriga-te debaixo da minha pele suada
e beija-me
docemente

Mas permanece em mim

Fecha os olhos e desamarra-te do mundo
desgarra-te da vida por um segundo
e beija-me
voando

E permanece em mim

Quebra as asas e voa mesmo assim
Abraça-me
Aperta-me
Quebra o silêncio
Grita
e beija-me
gemendo

Mas deixa que permaneça em ti


Cris ( Dos meus lábios nasce a noite)

segunda-feira, março 07, 2005

Ser...

Ignorámos as esquinas do tempo quando deixámos de saber ler a distância e nos prolongámos para além dos limites do corpo, numa ânsia de nos vivermos sem máscaras e sem correntes...
Apenas a Lua cobriu a nudez que não quisemos guardar e nós fomos as nossas mãos em permuta de sentidos... fomos gemido... fomos fim!
Na partilha dos desenhos do fumo do cigarro criámos a história que ficará sempre na memória dos castelos de espuma de mar que erguemos nas estrelas que nos nasciam nas íris debruadas de rendas de sonhos... e, ainda que por momentos, dobrámos cuidadosamente a solidão e guardámo-la no fundo da gaveta do armário das velharias...
E quando olho agora as minhas mãos vazias, não deixo de lembrar que foram tuas e tão logo se enchem de sorrisos e de ti...
Não mais reabri aquela gaveta... prefiro lembrar-te em mim...


Cris (Sussurros fora do tempo)

quinta-feira, março 03, 2005

Pedaços de sonho e de loucura...

Há noites em que apenas sei abraçar-te em forma de poema... como um sopro que se esvai de mim e te procura em jeito de início de madrugada...

Cada pedaço que em mim mora
é um pedaço de sonho e de loucura
que umas vezes agarro desesperadamente
para que não morra
e outras tantas finjo apenas que não vejo
para enganar o desejo
de a deixar viver...

Ainda hoje nesta hora
queria que os meus braços fossem asas
e a minha alma a Lua
e nua queria voar de mim para fora
largar de mim o que em mim mora
e nunca mais saber voltar...

Porém... ao abrir as minhas mãos
eu sei que os meus dedos não são penas
e que o meu horizonte não é a linha da ilusão
do ondular das tuas mãos quando me acenas
lá tão ao longe que apenas as consigo inventar

e...
mesmo assim
não sei e não quero aprender a viver
sem o sabor de te amar


Cris (Dos meus lábios nasce a noite...)

terça-feira, março 01, 2005

Tão dentro de mim...

Acordo no meio da noite, no momento em que o silêncio me agarra pelos ombros e me cobre de afectos que já não sei partilhar. Pede-me que esqueça os limites do que sou e me desloque no nascer do acaso, ao longo das fragâncias doces do instante, e me desgarre do avesso de mim própria, envolvendo-me nos meus próprios desejos. No primeiro instante não entendo este pedido. Confundo o silêncio com a escuridão e agarro-me com todas as minhas forças aos restos do cetim dos lençóis, procurando-lhes a maciez e a frescura. As vestes do meu leito oferecem-me segurança ao tempo que o silêncio me abraça e me conduz em busca do que desconheço. Permaneço, por instantes, quieta, o olhar fixo no nada, no negro, mas ao compasso do habituar das minhas íris à ausência de luz começo a descobrir os contornos. Não os do meu quarto... antes os de um mundo a que não sei por onde cheguei, nem quando. Nem tão pouco sei se estou. Sei apenas que estou plena de mim. Aos poucos, perco o domínio dos meus braços, que se erguem devagar, ao ritmo do perder do medo. Agrada-me a espera do acreditar em mim própria, ainda que transborde de consciência do quanto me poderei sentir só. Sinto nos lábios o aflorar de um sorriso e deixo que me invada o querer. Nada pode agora levar-me para fora de mim... absolutamente nada!
Cris ( Dos meus lábios nasce a noite)