terça-feira, outubro 22, 2013

Rebeldia...

                                           Foto: Cristina Fidalgo


Se sinto ou não sinto o que escrevo
que importa, quem quer saber?
Que interessa se falo verdade ou se minto
no momento da pena correr?

Tenho alma de gente a sério
alma que vive a crescer
stressada
feliz
dorida
que importa se não sente nada?

Pois é...
Estou a mentir
esta minha alma é danada
se bem que a queira a sorrir
cisma em fingir-se zangada

e

quando a julgo a dormir
desperta-me em tom de balada
desata num pranto pegado
transborda-me em rio
incontido
nas margens de um leito
severo
e deixa-me perdida
e atordoada
quando menos quero
e menos espero

Ah! alma safada
aquieta-te...
adormece...

Cris ( Transparências)

quarta-feira, outubro 16, 2013

Vamos conversar um pouco?



   tenho uma vontade louca de conversar contigo ainda que não saiba o que te dizer. não tenho um tema para conversarmos, não sei sequer se virás aqui ter comigo... mas apetece-me conversar! 
   gostava de dizer-te que está tudo bem, que respiro sorrisos e gargalhadas, que transpiro a serenidade que me costumas encontrar na voz e a tranquilidade que me conheces no olhar... mas não está tudo bem   e eu não sei conversar contigo assim.
   há medo, preso num grito, bem no fundo da minha garganta. é o medo de desabitar o teu olhar, de deixar as tuas mãos vazias de mim... medo de esvaziar de sol os meus olhos. não gosto do escuro! sei de cor, o silêncio, mas não quero habitá-lo em permanência. 
   de vez em quando encontro-me no por do sol, aninhada, numa busca incessante de gravuras rupestres esquecidas no tempo, que me garantam que há cantos no céu onde também se pinta a vida. se eu tivesse a certeza que nas curvas do horizonte nascem flores e frutos silvestres, que nas margens dos caminhos celestes há odores doces de sorrisos debruados de mel... se eu tivesse essa certeza, eu perdia esta vontade de expulsar de mim o grito agudo que tenho encravado na garganta! mas não tenho certezas, nunca mais terei certezas. posso até amordaçar este grito, escondê-lo de ti e de todos mas... e de mim? como posso eu esconder de mim algo que é tão meu, que me consome?...
   ainda bem que não vieste aqui ter comigo... assim não te sentaste aqui comigo a remexer no por do sol, nem ficaste a conhecer-lhe os cantos menos suaves.
   e, eu, prometo que não vou deixar-te procurar as pinturas rupestres e que não volto tão cedo a aninhar-me aqui no por do sol. vou antes pegar nas tuas mãos e encher a minha alma do aroma do mar e da espuma dele quando me beija os dedos dos pés devagarinho. vou enfeitar a noite com estrelas do mar e pendurá-las nas pontas das algas que me aquecem os ombros, quando me encosto a ti com ternura. podemos ficar sentados a dançar o silêncio que nos enfeita os momentos em que dizemos tudo o que sentimos sem usar uma única palavra... 

Cris ( A Voz do Silêncio)
   

terça-feira, outubro 01, 2013

Um beijo, pai!



olho através desta saudade que me queima o peito
e não consigo encontrar o mais pequeno jeito
de não me lembrar de ti a toda a hora

dizem que é o tempo que leva a mágoa da alma de quem sofre
e a faz desaparecer como se a saudade fosse uma espécie de sede
e o passar dos dias a água que se lhe dá a beber

eu não quero que morra em mim
esta saudade de ti e de te lembrar
nem quero que me definhe na alma
esta forma de te sentir aqui

feito regaço
que me embala

é na calma desse abraço que em mim mora
que eu encontro sempre o teu sorriso 
esse olhar meigo que nunca de mim foi embora
e a ternura da tua voz de eterno menino
que me deixaste por herança e por destino
e que eu guardo num cantinho do meu peito
para te ter sempre comigo

Um beijo, pai!

Cris (Conversas contigo...depois!)