Até ao céu...
É numa noite assim, bordada de ténues lembranças do teu sorriso e da tua voz, que me quero deixar adormecer no tempo e saborear o que no meu peito sobra de nós.
Sempre que me abandono aos dias que foram nossos, às correrias nos campos, às gargalhadas, às histórias que líamos tantas e tantas vezes... às árvores que nos estavam proibidas mas que trilhávamos como se fossem avenidas... aos passeios que dávamos nas nuvens que nos serviam de modelos, consigo sentir ainda o gosto doce das nêsperas e das ameixas, temperadas deliciosamente pelas azedas avinagradas que apanhávamos no jardim! E as corridas que fazíamos com os teimosos dos bichinhos-de-conta, lembras-te?...
Não sei onde estás, nem como me sabes agora... mas sei que, onde quer que seja, estás a sorrir... a correr por um qualquer jardim, a desenhar as nuvens que eu ainda consigo sonhar. Às vezes, na hora dos sonhos, ainda vens ter comigo... e vemos a ria, juntos, lá do alto da nespereira... E jogamos às escondidas para eu te poder encontrar. E tu já sabes que te encontro sempre... descubro-te no marulhar das ondas da ria, nas pontas do vento ou nas pregas da maresia. Descubro-te nas pétalas das flores do jardim, no som dos pingos da chuva, no aroma das páginas dos livros de aventuras que ainda guardo. Descubro-te nos sons que me afagam a alma e se aninham no meu peito... lá onde a vida é só memória.
Sei-te estrela... a brilhar tanto...
Descubro-te sempre... e dói, como dói ao beijo a falta de um rosto, como dói ao abraço a falta de um ombro, como dói ao sorriso a falta de um olhar...
Dói porque o tempo consome a vida mas não consegue apagar a saudade... e eu tenho tantas saudades tuas!
Um beijo... até ao céu!
Cristina Fidalgo (
Conversas contigo... depois!)
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